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Clara Gomes e Vanessa Gonçalves

Tóquio 2020: do torcedor fanático ao mero ouvinte


Crédito: Martin BUREAU / AFP

Tóquio, 08h. Brasil, 20h. Esse é o horário em cada um dos locais nesse momento, separados por 12 horas de diferença. Isso significa que em Tóquio está começando mais um dia das olimpiadas de 2020, enquanto no Brasil as pessoas se preparam para encerrar o dia. Mas, nesse período, as coisas não estão necessariamente seguindo essa ordem.


As olimpíadas de Toquio 2020, adiadas por um ano devido a pandemia do COVID-19, trouxeram um desafio para o torcedor brasileiro: dormir ou ficar acordado assistindo os jogos? Nesse cenário, temos diversas pessoas que ficam acordadas durante toda a madrugada assistindo aos jogos, que estão bombando nas redes sociais, assim como outras que aparentemente sequer sabem que diversos atletas de seu país estão competindo agora. Entender o que leva uma pessoa a perder sua noite de sono e outra a não se empolgar nem um pouco é o objetivo dessa matéria.


O torcedor fanático está no ‘horário de Tóquio’



A expressão ‘estou vivendo no fuso horário de Tóquio’ ganhou espaço no twitter após diversos torcedores brasileiros colocarem despertadores nos mais variados horários – de 1h até 5h da manhã – para assistirem os atletas defenderem seu país. E, aqueles mais radicais, sequer dormem.


“O que me faz ficar acordado é que viver esse período dos jogos me faz bem, eu amo ficar assistindo isso, esperei 5 anos dessa vez por esse momento e tem uns 8 dias que meu maior problema é a frustração quando o Brasil não ganha uma medalha. São umas 2 semaninhas só, mas me fazem esquecer um pouco do resto dos problemas, sem falar que vendo os jogos já tá me dando um pique pra querer começar 357 esportes diferentes e eu acho isso incrível.” (Luiz, 22, jovem aprendiz).


E, a maioria dos brasileiros realmente tem realmente assistido com afinco as olimpíadas, do futebol ao badminton, quer o país seja candidato a ganhar medalha ou não, os torcedores seguem comentando e torcendo muito.


“Não estou perdendo nada deixando de assistir”


Se de um lado temos torcedores como Luiz, que inclusive comentou que desde Atenas 2004 tem o costume de assistir tudo, não importa o horário, na outra ponta temos pessoas que não se interessam por nenhum esporte e não sentem vontade de assistir os atletas de seu país. Esse é o caso de Raquel, 21, estudante: “Não tenho interesse em esportes no geral, não sinto que eu "perderia" algo se deixasse de assistir.”


Esse comportamento, apesar de parecer raro devido ao hype das redes socias que traz a impressão que todos estão comentando sobre os Jogos, é muito comum. O fato é que o Brasil ainda é um país que tem pouco incentivo à pratica esportiva, logo, as pessoas não possuem contato quando crianças – tirando a obrigatoriedade da educação física na escola – e nem são incentivadas a assistirem ou torcerem.


“Eu tive acesso a um Centro Esportivo com diversas modalidades esportivas no bairro onde moro (cg-rio), mas justamente por ver que não há incentivo, investimento e não perceber aquilo com olhos para além de "fazer um esporte pra não ser sedentária", sem visualizar uma certa utilidade naquilo, eu me distanciei muito.” (Raquel, 21, estudante)


Segundo Alcileia, 47, funcionária pública, apesar de torcer pelo seu país e ficar feliz quando descobre que alguém ganhou uma medalha, ela nunca fez questão de acompanhar as transmissões em tempo real: “A qualidade do meu sono é prioridade pra mim. Não é algo que me faça querer dormir mais tarde ou colocar o despertador pra acordar mais cedo para assistir. Num aspecto geral, não fui incentivada a me interessar por esportes quando mais jovem e acho que isso também influencia.”


Se considerarmos um aspecto geral, é possível perceber que o Brasil ainda é um país que depende muito que as pessoas se encantem com o esporte quando mais novas, caso de Luiz, para que continuem acompanhando e torcendo. E, quando isso não acontece, o resultado é que a falta de contato não cria a “magia do torcedor” e afasta as pessoas da torcida.


As próximas olímpiadas são em Paris 2024, apenas 5 horas de diferença e, ao contrário do último ciclo que teve 5 anos, esse serão apenas três, ficando então o questionamento: quais medidas podem ser tomadas dentro desses próximos anos para motivar pessoas que não tiveram incentivo quando mais jovens a torcerem pelo seu país assim como Luiz?

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