Cidade se prepara para evitar possíveis fraudes e aplicativo desenvolvido por pesquisadores torna-se aliado
Por Mariana Guiciard e Pâmela Nocelli
11 de Fevereiro de 2021
A vacinação contra o coronavírus teve início em Juiz de Fora no dia 20 de janeiro, quando a cidade recebeu 33,8 mil doses. O município possui, entretanto, aproximadamente 573.285 cidadãos. Em razão de ser um recurso ainda limitado em todo o país, tem-se observado um movimento por parte da população para burlar o plano de vacinação nacional. Segundo a professora Luana Rezende Duraes, já houveram, em Juiz de Fora, tentativas de desvio da ordem, inclusive dentro de instituições hospitalares. Ela aponta que isso causa um problema para o plano de vacinação. “Quando se fura a fila, pessoas da linha de frente, que realmente precisam ser vacinadas neste momento, ficam sem a vacina”.
Segundo a Ouvidoria de Saúde, 57 denúncias de fura-filas na vacinação contra a Covid-19 foram feitas em Juiz de Fora. Caso seja confirmado que pessoas vacinadas não estão nos grupos prioritários, a Prefeitura de Juiz de Fora deve acionar o Ministério Público.
Assim como o restante do país, a cidade segue o plano de vacinação e imunizou, inicialmente, os vacinadores, seguidos pelos internos e profissionais das Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e aqueles que atuam na linha de frente dos hospitais. Esses profissionais já estão recebendo a segunda dose. Segundo a Secretaria de Saúde de Juiz de Fora chegarão, nesta quinta-feira (11), novas vacinas destinadas aos idosos com mais de 90 anos, que devem realizar um cadastro no site da prefeitura para serem vacinados.
Com o início das vacinações, a Secretaria de Saúde notou a necessidade da criação de uma ferramenta de monitoramento e controle. Com isso surgiu a plataforma Busco-saúde, fruto da parceria entre a Prefeitura de Juiz de Fora (PJF) e pesquisadores da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). “Ela permite armazenar e atualizar dados como o número de pessoas vacinadas, a quantidade de vacinas disponíveis, os locais de aplicação e os trabalhadores envolvidos no processo em tempo real.”
A subsecretária de Vigilância em Saúde, Cecília Kosmann, explica que a plataforma é fundamental para se ter a segurança da informação e fazer a imunização da forma correta. O sistema garante a agilidade do processo, além de ser uma forma de evitar situações de ‘fura filas’ e de perda do prazo para a segunda dose.
Direitos e deveres: reivindicar politicamente e socialmente a reflexão bioética da sociedade
A prefeita da cidade, Margarida Salomão, em sua página oficial do Twitter, no dia 05 de fevereiro deste mês, coloca o atual cenário político social em voga.
Ao dar prosseguimento para a questão em outros tweets, ela atribui a responsabilidade da limitação da vacina ao negacionismo científico insuflado durante o governo Bolsonaro. Sobre os reflexos disso no comportamento da população, o pesquisador e doutor na UFJF, Wedencley Alves, fala que acredita que o fenômeno negacionista é ainda mais complexo.
“Quando se nega o tamanho da pandemia é muito difícil que estas pessoas não compreendam o que é uma pandemia. O que se diz não é negar a pandemia, mas negar que se sabe que é uma pandemia, é diferente.” Para além dessa questão, ele aborda que os casos de pessoas “furando a fila” envolvem um déficit social que revela a necessidade de reflexões bioéticas. Ele explica que, em geral, as questões bioéticas são voltadas para a pesquisa científica, os limites da ciência e os limites das práticas clínicas médicas, mas que é necessário trazer esse debate para ações cotidianas.
O professor explica, ainda, que uma sociedade centrada no indivíduo e no egocentrismo, em que se disputa a visibilidade como se disputa a existência, as relações humanas são todas baseadas na concorrência. Segundo ele, algumas sociedades encaram essas questões de forma diferente. “Existem “fura-filas” em muitos lugares do mundo. Entretanto, algumas sociedades que não passaram por esse mesmo processo de ego centralização vão encarar isso de uma outra forma. É o caso, por exemplo, das sociedades orientais, que parecem mais bem preparadas para enfrentar questões coletivas. Já o Ocidente estabeleceu a ideia de liberdade e a ideia de uma liberdade sobre o indivíduo sem qualquer concessão a coletividade”, explica.
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