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Maria Eduarda Sandrini

O dilema das vacinas: quando estaremos seguros?

Vinte e cinco dias se passaram desde que a primeira dose da vacina contra a Covid-19 foi aplicada em território nacional. O fato, que entrou para a história do país, abriu espaço para que uma sombra de esperança voltasse a existir na vida dos brasileiros.

Diante da possibilidade da tão esperada vacina, a ânsia por se sentir seguro através da imunização se intensificou de tal forma que a empatia e a coletividade parecem ter se tornado expressões frívolas para muitos, quando olhamos para as últimas semanas. Em um país marcado pela corrupção, esta mazela vem se refletindo inclusive nos postos de vacinação. Os estados registraram um lamentável número de pessoas que foram imunizadas indevidamente, ou seja, receberam a dose que deveria ter sido aplicada, por direito, em outro indivíduo.

O que parecia ser um momento de triunfo para toda a população, vem se transformando em uma camuflada disputa do "quem se salva primeiro?", onde a desigualdade é peso decisivo entre os lados desta balança. Não se sabe quanto tempo o Brasil levará até ter todos ou, pelo menos, 90% de seus habitantes imunizados. Estima-se que este processo poderá levar mais de quatro anos, se o ritmo de vacinação atual permanecer.

No entanto, aqueles que colocam sobre os olhos a venda do individualismo ou adotam a lógica do "eu primeiro" atrapalham, incontestavelmente, a linearidade proposta para que o país alcance o nível de imunização almejado. Em Manaus, por exemplo, a campanha de vacinação foi suspensa após suspeitas de fraudes na aplicação das doses. A capital ficou sem aplicar vacinas durante quatro dias inteiros, afetando, mais uma vez, o andamento da imunização.

A vacinação é, assim como tantas outras formas de prevenção do vírus, um princípio coletivo, no qual pensar que se imunizar “na frente” de outras pessoas é sinônimo de pôr fim ao problema se torna mera ilusão. A lógica da vacinação aponta para a busca por uma imunidade coletiva, que visa diminuir a propagação do vírus. Neste sentido, a imunização se inicia pelos grupos de pessoas consideradas de maior risco, seja por contaminação, como é o caso dos profissionais que atuam em linha de frente, ou de intensificação do quadro da doença.

Em entrevista ao PodCast “O assunto” do portal G1, o médico e advogado sanitarista do Centro de Pesquisa em Direito Sanitário da Universidade de São Paulo, Daniel Dourado, disse que "a vacinação é o começo do fim da pandemia”. Pode-se dizer que este é o nosso cenário atual. Estamos tentando viver o início da resolução de uma das maiores crises de saúde mundial já vivenciada até hoje. Colaborar para que alcancemos esse tão esperado fim o mais rápido possível é, de longe, o mínimo que podemos fazer.


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