Entre os motivos estão a conscientização pela causa animal, respeito ao meio ambiente e melhor compreensão do poder nutritivo dos vegetais
Foto: Pixabay
Já são quase 30 milhões de vegetarianos no Brasil, segundo pesquisa encomendada ao Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) pela Sociedade Vegetariana Brasileira (SVB). Esse número representa cerca de 14% da população brasileira. Mas o que leva as pessoas a adotarem o vegetarianismo no Brasil? Segundo a pesquisa os motivos geralmente são: compaixão pelos animais, ideologia, preservação do meio ambiente e desejo de uma alimentação mais saudável. Dentro de cada perfil há um número considerável de brasileiros que aderiram a um estilo de vida com alimentação vegetariana. A previsão é que esse número cresça ainda mais, estimulando a oferta da indústria, de restaurantes e aplicativos voltados para o público que prefere não consumir carnes.
O vegetarianismo cresce no Brasil e também pelo mundo. Recentemente, a revista Vogue britânica considerou a dieta baseada em vegetais, frutas e cereais como uma das maiores tendências de bem-estar do último ano.
Mudança no comportamento para hábitos mais saudáveis
O comportamento do consumidor mudou em diversos aspectos e os cuidados com a alimentação e a saúde estão ainda mais evidentes depois do crescimento de adeptos ao vegetarianismo. Além da conscientização produzida pela compaixão e amor pelos animais ou em respeito ao meio ambiente, as pessoas começaram a compreender melhor o poder nutritivo dos vegetais. O estudante de medicina Marcus Dousseau está na transição para o vegetarianismo há cinco meses e conta que há algum tempo nutria a vontade de cessar com o consumo de carne. “Faz um tempo que acompanho documentários, artigos e notícias sobre as consequências do consumo desenfreado de carne, e o tanto que é utilizado do meio ambiente para a produção. Então levando em conta a sustentabilidade do planeta, e também, principalmente, o sofrimento animal causado por indústrias, resolvi parar”, relata.
Mas é importante se atentar para as necessidades vitamínicas do organismo, que deve absorver combinações entre diversos alimentos. Não basta apenas aumentar a estatística do vegetarianismo no Brasil, mas fazer uma transição consciente e responsável. É o que destaca Lorena Cardoso, estudante de direito que é vegetariana há três anos, mas precisou voltar a comer peixe por estar em déficit de vitamina B12. “No meu caso, o meu organismo não consegue absorver bem a reposição dessa vitamina e, por recomendação médica, voltei a consumir, mesmo que se forma reduzida, o peixe. Dessa forma, é importante dizer que a dieta vegetariana exige atenção quanto à essa vitamina, mas no geral ela traz inúmeros benefícios para a saúde, e para o planeta”, ressalta.
De acordo com Patrícia Rodrigues, coordenadora do curso de Nutrição no Centro Universitário Estácio de Sá, os vegetarianos em comparação aos comedores de carne tendem a consumir menos gordura saturada e colesterol, e mais vitaminas C e E, além de fibra alimentar, ácido fólico, potássio, magnésio e fitoquímicos (produtos químicos vegetais). Como resultado disso, é provável que eles tenham menor colesterol total e LDL (ruim), menor pressão arterial e menor índice de massa corporal (IMC), todos associados à longevidade e a um risco reduzido de muitas doenças crônicas. Porém, Patrícia salienta que ainda não há dados suficientes para dizer exatamente como uma dieta vegetariana influencia a saúde a longo prazo. “É difícil distinguir a influência do vegetarianismo de outras práticas que os vegetarianos são mais propensos a seguir, como não fumar, não beber excessivamente e fazer exercícios adequados”, pontua a especialista.
É importante entender que existem grupos diferentes de adeptos e a forma como se relacionam com a eliminação dos alimentos de origem animal da dieta. São quatro grupos com variações quanto ao que é permitido no consumo, mas nenhum deles admite a carne no cardápio.
Uma das principais dificuldades encontradas pelos vegetarianos é a indisponibilidade de produtos de origem vegetal em alguns locais. Marcus comenta que por ser de uma cidade do interior, às vezes as opções são restritas. “O mais difícil é quando vou comer fora de casa, seja em restaurantes, pubs e lanchonetes. Aqui em Santos Dumont, as opções para quem não come carne são poucas, o que torna o processo mais complicado”. No entanto, Lorena aponta que esse cenário tem passado por uma grande mudança. Ela observa que grandes empresas e até mesmo pequenos restaurantes têm percebido a crescente demanda do vegetarianismo, e com isso estão mudando seus cardápios como forma de adequação ao novo público.
Dicas para começar uma dieta sem carne
Se há alguns anos era difícil conhecer um vegetariano, hoje é mais fácil encontrar pessoas que decidiram abrir mão de uma alimentação com carne para priorizar o bem-estar animal. Listamos algumas dicas da nutricionista e terapeuta homeopata Ludmara Zimmermann para quem quer cortar a carne de vez do cardápio.
1- Não existe regra para começar a ser vegetariano
O primeiro ponto é que não existe uma regra clara para quem decidiu se tornar vegetariano. Mais importante do que a forma como vai abrir mão da carne é entender a importância de substituir os seus benefícios na alimentação do dia a dia. Mas para quem ainda não sabe como começar, a nutricionista Ludmara dá uma sugestão: “Encante-se pelo banquete da natureza, perceba a variedade de alimentos, amplie seu cardápio, estude sobre alimentos e esteja sempre atento aos sinais do seu corpo”.
2- Leguminosas devem aparecer mais no prato de vegetarianos
Decisão tomada, vem a pergunta que todo mundo faz: que tipo de alimento deve entrar no lugar da carne? É claro que a proteína animal traz diversos benefícios para o nosso corpo, e por isso uma alimentação variada é essencial para substituí-la no cardápio. Ao retirar a carne da alimentação, invista em leguminosas como feijões, grão-de-bico, lentilha, ervilha, além de hortaliças verdes escuras, como brócolis, rúcula, couve e espinafre.
3- Se está com dificuldade em cortar a carne do cardápio, comece aos poucos
Acha que vai sentir muita falta da carne? Calma, talvez seja o momento de avaliar se você quer mesmo ser vegetariano ou não. Afinal, cortar essa proteína do cardápio não deve ser algo penoso, mas sim prazeroso por você ter tomado uma decisão baseada em ideais pessoais. Refletir e ter paciência são dicas para quem ainda está um pouco perdido nessa nova dieta.
4- Cortar a carne não é abrir mão de sabor
Um problema enfrentado por muitos aspirantes ao vegetarianismo é abrir mão do sabor da carne. Isso porque tem gente que simplesmente ama proteína e não gosta nada de legumes e vegetais de forma geral. Mas esse não é o fim do mundo: com dedicação é possível abrir mão dessa proteína sem deixar o sabor de lado. "A alimentação tem que ser gostosa, ninguém quer comer algo sem graça. Aventure-se por restaurantes que têm essa proposta, você pode se surpreender e perceber que ser vegetariano de forma alguma é abrir mão do sabor e de comidas gostosas", destaca Ludmara.
5- Não tenha medo do novo
Uma das dicas “chave” para quem está realmente decidido a se tornar vegetariano é dar uma chance ao novo. Permita-se experimentar novos alimentos e diferentes formas de preparo. Esteja aberto, aventure-se na cozinha e, principalmente, saiba o que te motiva a ter uma alimentação vegetariana.
6- Procure um nutricionista antes de adotar uma nova dieta
Por fim, é importante lembrar a importância de consultar um nutricionista antes de simplesmente mudar a alimentação de forma substancial. É esse profissional que poderá acompanhar as suas taxas e garantir que você esteja fazendo as substituições adequadas. Sempre pesquise e tenha acompanhamento profissional, principalmente para organizar a alimentação e não ter nenhum problema futuro acarretado por uma má transição de dieta. Ser vegetariano não significa ser doente ou ter deficiências, mas é necessário se atentar a algumas necessidades específicas que o profissional saberá manejar. Ao retirar a carne você possui muitos outros alimentos que a natureza fornece, tenha uma alimentação sempre variada. Quanto mais cores no prato, mais nutrientes diversificados.
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