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Raí de Castro e Isabella Sobral

Mesmo após aprovação da ANVISA, vacinas contra covid-19 ainda causam desconfiança


Segundo estudo, 10 a cada 100 brasileiros não pretendem tomar vacina; especialista explica como convencê-los


Por Raí de Castro e Isabella Sobral

10 de fevereiro de 2021


A criação de uma vacina contra a covid-19 é, sem dúvidas, um dos grandes anseios que atravessaram o limite entre o ano passado e 2021. Após a aprovação dos primeiros imunizantes no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em janeiro, o desejo tornou-se ainda mais próximo de ser realizado pelos brasileiros. No entanto, enquanto boa parte do país recebe a notícia com entusiasmo, há aqueles que olham com desconfiança para a novidade.


Embora uma pesquisa da Hibou – empresa de pesquisa e monitoramento de mercado e consumo – aponte que 87,4% da população brasileira pretendem tomar a vacina – o que representa 9 a cada 10 brasileiros –, os 12,6% restantes demonstram-se resistentes à vacinação. E pelos mais diversos argumentos.


Elenice Braga, de 67 anos, faz parte dessa parcela. A dona de casa, que pertence ao grupo de risco em razão da idade e do histórico de hipertensão, é totalmente avessa à ideia de tomar a vacina. “Eu não quero tomar a vacina porque eu simplesmente não acredito nesse surto de covid-19 que tem sido pintado pela mídia e pelo governo. Eu até creio que exista, sim, o vírus, mas parece que tudo isso que se criou em torno da doença é teatro para alguém levar vantagem”, conta.


Desacreditar na covid-19, como é o caso de Elenice, é um dos argumentos mais básicos adotados por quem resiste à vacina – se não há doença, não há por que acreditar na cura. Mas as alegações vão além: há quem não acredite na eficácia das vacinas criadas até agora. Jennifer Raposo, de 27 anos, é um desses exemplos. A autônoma, que cursa técnico em enfermagem, não crê na confiabilidade dos imunizantes que já estão sem aplicados.


“Durante a história, o desenvolvimento das vacinas sempre levou muito tempo. Algumas demoraram anos para ficar prontas. Sinceramente, não acredito que uma vacina criada em tão poucos meses seja segura”, diz Jennifer. Para a jovem, que tem um filho de 6 anos, as consequências de se tomar uma vacina tão nova são preocupantes: “Eu tenho receio do que isso pode causar no meu organismo e no do meu filho. Alterar o nosso DNA, provocar outras doenças... Não sei. Eu prefiro não tomar e ficar tranquila”, acrescenta.


Quem tomou comemora


A tranquilidade, que para Jennifer veio com a recusa à vacina, consistiu no oposto para Gustavo Diolindo, de 21 anos, estudante de Jornalismo no Centro de Ensino Superior de Juiz de Fora (CES-JF) e estagiário na Associação Feminina de Prevenção e Combate ao Câncer de Juiz de Fora (ASCOMCER). Alvo preferencial por trabalhar na área da saúde, Gustavo não hesitou em tomar a vacina.

“Quase um ano depois do início desse caos, finalmente, uma coisa boa. Me sinto mais tranquilo e seguro no trabalho e em casa depois de ter sido vacinado. Como sou o único [de casa] que está saindo, mesmo sendo do grupo de risco, morria de medo de contrair o vírus e passar para as pessoas que moram comigo”, conta.


Apesar da satisfação em ter sido vacinado, Gustavo reconhece a necessidade de cautela, porém. “Foi um momento muito emocionante, sem dúvidas, pois é um alívio... Mas estar vacinado não quer dizer poder ir pra uma mesa de bar e ficar horas papeando sem máscara. Ainda temos muito o que caminhar”, acrescenta.

Semblante de Gustavo Diolindo estampa a satisfação em ser vacinado


Os benefícios da vacina vão ainda muito além: mesmo quem ainda não foi vacinado já consegue se sentir seus efeitos. Gustavo Novaes, também de 21 anos, estudante de Direito da UFJF, atesta: “Embora esta seja situação muito inédita para todos nós, de modo geral, consigo me manter otimista só por saber de pessoas próximas se vacinando aqui na cidade. Pessoalmente, a vacina tem sido um dos maiores desejos desde o início da pandemia, não só para a proteção da minha saúde e dos meus familiares e amigos, mas como um ato coletivo também”.


Sobre indivíduos que recusam a vacina, Gustavo comenta: Consigo perceber os dois grupos [pró e anti-vacina], ainda que, no meu círculo íntimo familiar e de amigos, eu veja muito mais pessoas motivadas a se vacinar. Acredito que a ciência no nosso país tem sofrido com muito descrédito e muito descaso também, já há alguns anos. O discurso e a postura de algumas figuras públicas talvez reforcem essa ideia e influenciem essas pessoas”.



Convencimento requer bom jeito



Ainda que as vacinas sejam confiáveis – como demonstraram os diversos testes realizados nos últimos meses –, muita gente não se sente segura para receber os imunizantes. De acordo com o psiquiatra Vitor Sousa, grande parte dessas pessoas se comporta assim por simples desinformação. “O receio surge, na maioria das vezes, porque as pessoas desconhecem a vacina, principalmente os idosos”, explica.


Para fazer com que essas pessoas entendam a necessidade da vacinação, a informação deve ser transmitida com clareza, de forma que o que se fala seja capaz de alcançar todos os níveis de compreensão, seja desde um adolescente a um idoso, seja desde um doutor a um analfabeto”, diz o médico. Para auxiliar esse processo, Vitor dá ainda outra dica: “Também é importante não usar um tom de imposição, mas estabelecer uma conversa”, acrescenta.


Àqueles que ainda têm dúvidas quanto à validade das vacinas já aprovadas, Vitor deixa um recado: “Esteja atento aos fatos e sempre desconfie de informações que circulam nas redes sociais ou em aplicativos de mensagem”, sugere. “Como vivemos uma era de notícias falsas e sem embasamento científico, precisamos buscar fontes confiáveis, ou seja, pessoas e instituições que forneçam informação verídica e de qualidade, como os especialistas e a imprensa”, finaliza.


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