Parcela da população se sente insegura sobre a eficácia das vacinas contra a Covid; infectologista afirma que a causa é a desinformação
A Superintendência Regional de Juiz de Fora (SRS-JF) recebeu na quarta-feira (10), a terceira remessa de vacinas contra a Covid-19. Chegaram ao município 10.480 doses da CoronaVac, produzida pelo laboratório chinês Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. A informação foi divulgada em nota pela Prefeitura de Juiz de Fora (PJF). Com o novo lote, a cidade dará início, a partir de quinta-feira, à imunização de idosos com 90 anos ou mais, além de continuar o procedimento nos trabalhadores de saúde. De acordo com dados do vacinômetro da PJF, mais de 15 mil pessoas já foram vacinadas até o momento.
Para operacionalizar a vacinação, foi disponibilizado no site da prefeitura um sistema de cadastro. Em vídeo divulgado nas redes sociais, a secretária de Saúde, Ana Pimentel, orienta para que todos que tenham familiares com 90 anos ou mais preencham o formulário on-line. Ao longo desta semana será detalhado o processo de imunização neste público e informado os locais de vacinação.
CoronaVac x AstraZeneca: Qual a diferença?
CoronaVac/Butantan é a vacina feita com o vírus inativado. O corpo que recebe a vacina com o vírus — já inativado — começa a gerar anticorpos necessários no combate à doença. De acordo com o médico infectologista, Rodrigo Daniel de Souza, do Hospital Universitário de Juiz de Fora (HU), a eficácia geral da CoronaVac é em torno de 50% e, caso seja contaminado com a covid, a vacina oferece 100% de eficácia para não adoecer gravemente e 78% para prevenir casos leves. Ela foi desenvolvida na farmacêutica Sinovac, mas no Brasil, a parceria com transferência de tecnologia foi feita com o Instituto Butantan. Os testes para estudos clínicos com a CoronaVac começaram em julho de 2020 em oitos estados brasileiros. O estudo foi realizado com 13.060 voluntários, todos profissionais da saúde e expostos diariamente à doença. A aplicação da vacina começou no dia 17 de janeiro, no estado de São Paulo, após aprovação emergencial da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA).
A vacina Oxford/AstraZeneca/Fiocruz usa uma tecnologia conhecida como vetor viral não replicante. O infectologista explica que essa técnica utiliza um "vírus vivo" (que não tem capacidade de se replicar no organismo humano ou prejudicar a saúde). Ao entrar nas células, esse vírus é detectado pelo sistema imune, que cria formas de combater o coronavírus e desenvolve uma resposta protetora contra a infecção. A AstraZeneca e a Universidade de Oxford anunciaram dois resultados diferentes de eficácia desta vacina — 62% quando aplicada em duas doses completas e 90% com meia dose, seguida de outra completa. A eficácia média, segundo Rodrigo, é de 70%. No Brasil, a vacina teve transferência de tecnologia para a Bio-Manguinhos, a unidade produtora de imunobiológicos da Fiocruz. Voluntários brasileiros também participaram da fase de testes: foram 10 mil pessoas no total em cinco estados.
Pandemia só acabará com vacinação em massa
Segundo pesquisa realizada pelo Data Folha em agosto de 2020, 9% dos entrevistados afirmaram que não tomariam nenhuma vacina para deter o Sars-CoV-2. Esse número representa quase 19 milhões de brasileiros. Em Juiz de Fora, o número de óbitos decorrentes da covid já passou de 750. Para muitas pessoas, a vacina é um sinal de esperança, mas ainda há desconfiança sobre a eficácia e a segurança dos imunizantes como mostrou a pesquisa.
“Antigamente demorava mais de dez anos para produzir uma vacina. Eu não consigo confiar nessas [vacinas] que foram desenvolvidas em menos de um ano. Prefiro esperar para ver o que vai acontecer daqui pra frente.” Esse é o argumento de Andréia Castro, dona de casa, 48 anos, que se sente insegura com as vacinas aprovadas pela Anvisa. Mas, afinal, o que leva tantas pessoas a terem medo da vacina? Souza diz que a desinformação e o aumento de notícias falsas na internet contribuíram para o temor das pessoas em relação aos imunizantes: “Existe muita especulação e conversa de WhatsApp. As vacinas foram pesquisadas com prazo mais rápido, e isso alimentado por histórias e boatos, causa muito medo em algumas pessoas, principalmente àquelas que têm o acesso limitado à informação de qualidade”, afirma o médico.
Para que a imunização tenha maior eficácia é fundamental contar com a adesão e conscientização da população sobre a importância da vacina. A colaboradora do setor de tecnologia da informação (TI), do Hospital 9 de Julho em Juiz de Fora, Larissa Ruana, foi vacinada no início do mês, quando a PJF — alinhada ao Plano Nacional de Imunização (PNI) — ampliou o público de vacinação para trabalhadores técnicos e administrativos da saúde. Segundo ela, a importância da vacina é coletiva. “As pessoas que não querem se vacinar estão pensando apenas individualmente, e essa ‘questão’ é muito maior que isso. Se não atingirmos um número expressivo de pessoas vacinadas, a pandemia não será freada”, destaca.
Larissa Ruana recebendo a 1ª dose da vacina
Foto: Reprodução redes sociais
Embora faltem estudos em longo prazo sobre a vacina, de acordo com o médico infectologista, a estimativa é que seja possível controlar a disseminação do vírus assim que 60% a 70% da população estejam imunizadas.
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