Algumas pessoas costumam pensar que se emocionar, demonstrar sentimentos e falar das tristezas e das frustrações que permeiam a vida seja um sinal de fraqueza - ainda mais nessa época em que somos incentivados e incentivadas a mostrar sempre o que há de melhor nas nossas vidas através das redes sociais. Mas, talvez sinal de fraqueza mesmo seja ignorar nossos sentimentos, a nossa falta de controle diante de algumas situações, a nossa vulnerabilidade, aquelas interrogações sem respostas...
Certa vez, procurando por uma música de Elis Regina, encontrei no YouTube uma mulher jovem, com cabelo ondulado, batom e unhas vermelhas e um traje branco cantando a música. Comecei a ouvir e gostei. Descobri nos comentários que se tratava da filha da Elis, Maria Rita. Descobri também, em algum momento, que Maria Rita era quem cantava “Encontros e despedidas” de Milton Nascimento e Fernando Brant, tema de Senhora do Destino, novela que marcou minha infância - a você que me lê, peço desculpas pela ignorância, sai tardiamente da bolha de apenas ouvir músicas gospel. Me senti maravilhada diante de tantas descobertas.
Tratava-se das gravações para o DVD Redescobrir lançado em 2012 e decorrente da homenagem feita por Maria à sua mãe, no projeto Viva Elis. A interpretação que a Maria fez em canções tão fortes e que marcaram a vida de inúmeras pessoas na voz de sua mãe, como, por exemplo, “Se eu quiser falar com Deus” de Gilberto Gil, parece me abraçar em um lugar comum a todos nós, a vulnerabilidade e a dor. A interpretação de Maria me toca de um jeito tão profundo que quando ela canta é como se houvesse uma simbiose e eu me sinto ali cantando a minha vida ou a vida de tantas outras pessoas. É como se a Maria não fosse a Maria, eu não fosse eu, Elis não fosse a Elis; talvez fosse apenas a vulnerabilidade, a dor, a saudade e os sentimentos mil que podem vir à tona com a sua interpretação. Maria Rita com toda sua elegância e personalidade distribuídas nas canções me deixou apaixonada e em vários momentos, eu que não canto, eu que não sou boa com ritmo, me atrevi a cantar como Maria Rita.
A paixão por Maria e pelo seu jeito de interpretar foram aumentando com o decorrer do tempo. Sentia que as músicas e as interpretações falavam o que eu, às vezes, não conseguia ou não sabia como dizer; elas me explicaram, foram as xerox da minha alma e também me levaram à reflexão. Por vezes chorei, sorri, sonhei e lamentei as dores do caminho; por vezes me senti abraçada por Maria, pelas músicas e as abracei de volta. A delicadeza em alguns momentos, a força em outros, os olhares, as notas que sobem e descem, tudo me leva e traz, me fazendo conhecer uma parte de mim que estava adormecida ou que ainda está nascendo. Maria mostrou sua voz e seu talento para o mundo aos 24 anos e desejo que sua voz e talento continuem me ajudando e ajudando outras pessoas a descobrir ou a redescobrir formas de expressar seus mundos internos.
Jaciara do Couto
Comments