O mundo está se adaptando a um novo normal. Após um ano, o cenário pandêmico ainda é o mesmo. Diante de tantas mudanças até aqui, com a moda não foi diferente. De acordo com a pesquisa Moda e Pandemia, realizada por estudantes da Escola de Comunicação, Artes e Design da PUCRS, os hábitos de consumo vêm passando por várias adaptações. A pesquisa realizada em novembro de 2020 com jovens de 18 a 34 anos, identificou a prática do consumo consciente e o hábito de se escolher roupas e até seguir estilos pela internet, conhecido como “Moda em Rede”.
Para Cris Jacques, personal stylist, de Juiz de Fora, que atua como empresária e consultora no ramo de moda, entrevistada por chamada de vídeo, os motivos dessa mudança são inúmeros, mas o principal deles é o fato de que as pessoas estão passando boa parte do tempo em casa, seja trabalhando ou estudando. A necessidade do isolamento social trouxe novas formas de pensar, agir e até se vestir, principalmente visando o maior conforto.
Foto Cris Jacques - “Cris mostra aos clientes uma das novidades que é estar chique em um look mais despojado e confortável”.
Essa também é a opinião da jornalista Letícia Braga, que escreve sobre moda na página do portal Mega Minas. Na sua última publicação, no dia 31 de maio de 2021, ela explica como a pandemia a reaproximou do seu próprio estilo, que antes ela não se habituava.
“Engraçado como foi justamente durante a pandemia, no isolamento, e nos momentos de angústia e incerteza, que meu estado emocional mais se aproximou do meu estilo. Quase como uma muleta, busquei no conforto, nos tecidos leves e na beleza das misturas das cores um estímulo para não deixar a peteca cair.”
Foto Letícia Braga - “Letícia Braga começou a usar as redes sociais para mostrar suas combinações”.
A partir dessas identificações, é possível compreender que a moda trará novas tendências ou resgatará o passado, com combinações novas, incluindo peças unissex e também o retorno do jeans, que é peça super coringa no guarda roupa.
Outra tendência que Letícia Braga menciona é o uso de peças com uma pegada mais artesanal. O tricô, o crochê e o xadrez continuam sendo parte das composições e que reafirmam um lado mais afetivo da moda, aquelas peças geralmente feitas por avós, sogras, como é o caso do look abaixo.
No estudo Moda e Pandemia, realizada com mais de duzentas pessoas, sendo selecionadas nove para a fase qualitativa, foi possível perceber que o público jovem tem se tornado um consumidor consciente pragmático, que busca uma vida estável, conectado, passando a maior parte do tempo na internet, mas também equilibrista, que busca fazer escolhas inteligentes sobre o que de fato quer.
A personal stylist Cris comentou sobre como está sendo o atendimento ao cliente nessa pandemia, o que ela considerou como algo mais próximo, totalmente focado no perfil e nos desejos do consumidor.
“Eu acredito que muitas coisas mudaram, muita coisa positiva no mundo da moda. Eu tenho uma loja de roupa feminina e digo que as pessoas buscam o conforto agora, seja no atendimento, seja no consumo consciente, seja na adaptação dos gostos. Nós já enviamos as peças a partir do gosto do cliente. Sinto que fiquei mais próxima do meu cliente e faço toda a minha consultoria online, o que facilita também para eles”.
É possível compreender que apesar das mudanças, a moda tornou-se algo menos distante da população. O conceito moda está sendo repensada, permitindo-se a ser moldada agora mais a partir de escolhas e necessidades pessoais do que por exigências e padrões socialmente aceitos e ditados pela indústria.
A mudança no consumo pode estar relacionada também com dificuldades financeiras. O Brasil encerrou o ano de 2020 com mais de 13 milhões de desempregados, segundo dados do IBGE. A moda pode estar sendo repensada por vários motivos, entre eles a dificuldade financeira encontrada pelos brasileiros.
A estudante universitária Ester Vallim passou a reaproveitar as peças que tinha através da customização, que é ato de personalizar um item adequando ao gosto pessoal do indivíduo. Para ela, a customização foi uma forma de evitar gastos e também o desperdício.
Foto Ester Vallim – “Os brechós também foram uma opção para evitar gastos”.
“Eu nunca fui muito de gastar muito com roupa e as poucas compras que fiz foi pela internet. Então, preferi aproveitar o que eu já tinha ao invés de gastar mais sem ter necessidade.”
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