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Alexandre Pinto

A Globo está usando o BBB para atacar a militância hip hop e as pessoas não estão percebendo

O intuito desse artigo passa longe de querer defender qualquer indivíduo, participante do Big Brother Brasil 21 e/ou suas atitudes pessoais. O objetivo é apenas expor uma realidade simples que vem sendo praticamente ignorada: sendo por coincidência ou não, a opinião do público sobre os acontecimentos dessa edição é exatamente aquela que mais agrada a rede Globo de televisão e seus objetivos socioeconômicos.

A mediação, ou manipulação, da Globo sobre seu conteúdo para convencer seus espectadores a se alinharem a sua ideologia, tanto social quanto econômica, já é bem conhecida e amplamente denunciada por diversos jornalistas e veículos. Mário Augusto Jakobskind alertava em 2018 sobre as manipulações que aconteceriam na campanha “O Brasil que eu quero” (https://www.brasildefato.com.br/2018/01/26/rede-globo-prepara-mais-um-exercicio-de-manipulacao-para-enganar-incautos), também em 2018, Clóvis Vitória realizou uma série de entrevistas aprofundando sobre os detalhes dessa manipulação (https://www.sindbancarios.org.br/index.php/manipulacao-da-globo-e-concentracao-de-audiencia-e-de-propriedade-de-midia-em-debate/), no aniversário de 50 anos da rede de televisão, o PT fez um breve levantamento desse histórico de manipulação (https://pt.org.br/globo-50-anos-de-manipulacao/) e, no mesmo ano, o blog “Bem Blogado” apresentou 10 exemplos específicos de casos nos quais essa manipulação ocorreu (https://bemblogado.com.br/site/veja-em-10-exemplos-com-e-feita-a-manipulacao-da-globo/).

Superando essa recapitulação de como a Globo regula seus conteúdos e para que o faz, é interessante pensarmos o que especificamente ela quer com essa edição do BBB. Na edição passada, indo contra tudo o que a rede apresenta de visão de mundo, o participante Babu Santana expos diversas questões relativas à luta de classes e combate ao racismo, assim como um discurso e uma estética que combinavam com esses posicionamentos. Aparentemente, a Globo percebeu o enorme risco que era para seus objetivos apresentar essas ideias para seu público, tanto que, na mesma edição, a vencedora acabou sendo a Thelma, uma mulher negra que não carregava esses discursos de militância ativa, realizando sua luta apenas através da ocupação de espaços, uma militância menos “protagonista”. Além disso, a Globo resolveu reverter completamente esse movimento iniciado por Babu.

A edição 21 do BBB foi a que mais teve participantes. Karol Conká possui uma longa e potente história de militância com o movimento hip hop, assim como o Projota, apesar dele apresentar discursos menos diretamente políticos em suas letras. O Nego Di não está tão diretamente relacionado ao hip hop, mas também possui uma performance, uma estética e um discurso de certa forma ligados à luta de classes e o combate ao racismo, os quais são algumas das principais pautas do movimento. A psicóloga Lumena, apesar de diversas contradições em suas declarações e posturas controversas, também apresenta preocupações sociais. Apesar de nem todos se encaixarem no termo, eles são o que a Globo tenta apresentar como “militantes”, associando todas as suas ações a “militância”. Qualquer um que já assistiu ao programa ou leu sobre em redes sociais esse ano sabe esses que são os “vilões” da edição.

Agora, por que a rede Globo tenta relacionar esses discursos e indivíduos a situações negativas? Porque o movimento hip hop apresenta um projeto de sociedade, baseado principalmente num processo ativo de emancipação do negro, que disputa com o projeto da Globo. A educação emancipatória proposta pelo hip hop expõe a ilusão da meritocracia no Brasil, é até uma lógica muito simples: não tem como existir igualdade de oportunidades numa sociedade que é racista. Apesar disso, a rede de televisão tenta tirar a legitimidade e a importância desse tipo de debate.

Na edição passada do BBB, muitas pessoas viram pela primeira vez na TV aberta um indivíduo com um discurso e uma estética ligada ao hip hop. A Globo quis aprofundar esse contato, mas do jeito dela, associando essas questões à comportamentos negativos. Depois dessa edição, sempre que um jovem entrar em contato com algum aspecto do movimento hip hop, sua família, seus vizinhos, seus amigos e todos que consomem o programa sem pensamentos críticos já farão a associação desses aspectos com comportamentos negativos, criando uma resistência.

Na realidade, pode nem existir qualquer forma de mediação ou planejamento da Globo para que isso aconteça, pode apenas ser uma teoria da conspiração pensada por paranoicos. Muito mais realista supor que a opinião pública gerada a partir de um programa da Globo apenas por pura coincidência tira a legitimidade de um projeto socioeconômico divergente do desta emissora de TV.

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